Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
revistamineracao.com.br
Edição 60 . Ano 14
Setembro e Outubro de 2025
Exposibram 2025
Salvador volta a sediar
maior evento de
mineração do país
Entrevista
Henrique Carballal
e os novos desafios
da CBPM
Especial
A cultura de inovação como poderosa ferramenta no
enfrentamento dos gargalos que desafiam o setor minerário brasileiro
INOVAÇÃO
ESTRATÉGICA
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
Freepik | Movia Filmes
CLIQUE
COP30:
MINERAÇÃO
NA AMAZÔNIA
Os impactos ambientais da
mineração na Amazônia
serão temas de debate na
COP30, que acontece no
próximo mês em Belém
(PA). A expectativa é de que
o evento possa fomentar
compromissos mais claros
do setor em relação à
preservação ambiental
e às comunidades locais.
Realizada pela primeira vez
na Amazônia, a COP30 é
uma oportunidade para a
mineração discutir temas da
ordem do dia e, também, se
posicionar de forma proativa,
mostrando que consegue
operar com responsabilidade
socioambiental.
Não são de responsabilidade
da revista os artigos de opinião e
conteúdos de informes publicitários.
Siga nossas redes sociais
Conselho editorial
Adriano Espeschit
Engenheiro de Minas
J. Mendo Consultoria
Marcelo Mendo de Souza
Advogado | Cescon, Barrieu,
Flesch & Barreto Advogados
Portal | Contato
www.revistamineracao.com.br
revista@revistamineracao.com.br
Razão social:
Revista Mineração Ltda.
Rua Inspetor Jaime Caldeira, 1030
Brasileia . Betim (MG) . 32.600.286
+ 55 (31) 3544 . 0045
+ 55 (31) 98802 . 0070
Diretor-geral
Wilian Leles
MTB 12.808/MG
diretor@revistamineracao.com.br
Revisão
André Martins | MTB 21.455/MG
Redação
André Martins
Bianca Alves
Daniela Maciel
Valquiria Lopes
redacao@revistamineracao.com.br
Diagramação
Mariana Aarestrup
Capa Freepik | Gerado por IA
Anúncios | Comercial
+ 55 (31) 98802 . 0070
comercial@revistamineracao.com.br
Assinaturas
faleconosco@revistamineracao.com.br
Distribuição
Impressa: 10 mil exemplares para
16 estados brasileiros. Edição digital:
via e-mails, portal e redes sociais.
Circulação
Publicação dirigida aos setores mineral,
siderúrgico e energético, com foco
especial em mineradoras e siderúrgicas
de grande, médio e pequeno porte,
além de fornecedores, consultorias,
entidades, instituições acadêmicas,
governos e assinantes.
Expediente
Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e o mais Ele fará - Salmos 37:5
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
EDITORIAL
Pensar fora da caixa. Talvez não há
expressão que melhor defina a ino-
vação. No entanto, encontrar alter-
nativas arrojadas, que sejam fun-
cionais e, de igual modo, viáveis
economicamente, está longe de ser
tarefa das mais simples. Inovar de-
manda curiosidade, coragem e, so-
bretudo, propósito.
A mineração sempre foi uma ati-
vidade para a qual inovar foi algo
imperativo. A busca pelo novo, o
enfrentamento dos desafios e a
transformação de recursos naturais
em progresso são inerentes à mine-
ração desde muito tempo. Hoje, mais
do que nunca, a inovação é o motor
que move o setor e redefine o papel
da mineração no século XXI.
Vivemos um momento em que tec-
nologia e sustentabilidade cami-
nham lado a lado. É consenso que
não há outro caminho possível. Nes-
se contexto, inteligência artificial,
automação, sensores, biotecnologia,
economia circular e novos materiais
sustentam uma mineração mais pre-
cisa, limpa e conectada – capaz de
gerar valor econômico e social ao
passo que protege o meio ambiente.
Na edição que o leitor tem em mãos,
será possível ter dimensão do que a
cultura da inovação tem possibilita-
do ao setor e (por quê não dizer?) à
sociedade.
Em um amplo especial, são apresen-
tadas histórias e cases que revelam
um setor que aprendeu com o pas-
sado e que escolheu trilhar um cami-
nho de transformação. Um setor que
compreende que inovar não é ape-
nas adotar novas tecnologias, mas
repensar processos, desenvolver ta-
lentos, fortalecer parcerias, apostar
em inclusão e enxergar o impacto de
suas ações além dos limites da mina.
Um setor que prova que inovar é dia-
logar com a sociedade, incluir, edu-
car, compartilhar resultados e abrir
espaço para o futuro.
A inovação, portanto, não é apenas
um caminho possível: é o próprio
destino da mineração. Continuar a
buscar possibilidades para os desa-
fios, que mudam de natureza a todo
momento, é garantir a continuidade
de uma atividade indispensável à
vida humana e ao progresso das eco-
nomias ao redor do mundo.
Em nossa entrevista especial, o pre-
sidente da Companhia Baiana de
Produção Mineral (CBPM), Henrique
Carballal, destaca o protagonismo
do estado na nova fronteira da mi-
neração brasileira, recebendo, inclu-
sive, a edição 2025 da Exposibram,
após 30 anos. A CBPM, que deixa de
ser apenas uma empresa de pesqui-
sa para atuar também na produção,
vem atraindo investimentos e fo-
mentando a reindustrialização baia-
na. Entre os projetos em andamento
estão o ferro verde, o fosfato sem re-
jeitos e a fábrica de vidro solar. Car-
ballal ressalta o compromisso com
uma mineração sustentável e inclu-
siva, com ações sociais e ambientais
em todos os contratos e parcerias.
Uma boa leitura a todos!
Inovar para
coexistir no
mundo
Com mais de 20 anos de
experiência no jornalismo e
no mercado publicitário, é o
fundador e diretor-geral da
Revista Mineração & Susten-
tabilidade, no cenário nacional
desde 2011. Também é o
fundador e diretor da TV
Mineração, canal no Youtube
de conteúdos audiovisuais do
setor mineral e siderúrgico.
Wilian Leles
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
Entrevista | Henrique Carballal
Presidente da CBPM analisa o efervecente protagonismo da mineração baiana
SUMÁRIO
revistamineracao.com.br
Setembro e Outubro de 2025
Edição 60 . Ano 14
14
Inovação | Nexa
Adoção de bio-óleo e investimentos em pesquisa
46
Inovação | CMOC
Operação mais produtiva e sustentável
58
Inovação | Mining Hub
Cases que vêm transformando a mineração
68
Inovação | AngloGold Ashanti
Investimentos em eficiência e segurança
50
Inovação | ArcelorMIttal
Ecossistema para transformar e reduzir impactos
62
Inovação | Cetem
Pesquisas e desenvolvimentos que transformam
74
8 Panorama
12 Exposibram
14 Entrevista
18 Artigo Ibram
24 Informe
28 Especial
30 Especial
34 Especial
40 Especial
46 Especial
50 Especial
58 Especial
62 Especial
68 Especial
72 Informe
74 Artigo Cetem
78 Artigo Adimb
80 Artigo Direito
Beatriz Araújo | CBPM
Inovação:
Galvani
Projeto Irecê
contempla o
primeiro calcinador
de fosfato do país
Inovação:
Vale
Megaestrutura
em busca de
mais segurança e
sustentabilidade
Inovação:
Samarco
Descarbonização
e segurança, além
de eficiência
operacional
30
34
40
Divulgação | Galvani
Divulgação | Vale
Nitro Histórias Visuais
Seções
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
A transformação
começa
pela inclusão
“ Minha trajetória na
Anglo American tem sido
marcada por respeito e
desenvolvimento. Saber
que minha história é
reconhecida
me fortalece para
contribuir com ideias
no meu trabalho.”
Na Anglo American, cada trajetória impulsiona o futuro que queremos. A de Daniela Monteiro,
por exemplo, mostra que, quando nos sentimos pertencentes, o trabalho ganha sentido e
transforma realidades. Nosso propósito de reimaginar a mineração para melhorar a vida das
pessoas se concretiza com respeito, segurança, inclusão e cuidado com quem escreve essa
história com a gente. O futuro que queremos começa com quem constrói o presente.
Daniela Monteiro
Analista de reassentamento
Acesse o QR code ao lado e confira por que a Anglo American
acredita que diferentes histórias e culturas geram ideias
mais transformadoras.
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
Negócios
GRUPO WEIR
ADQUIRE FAST2MINE
PANORAMA
Divulgação | Fast2Mine
VALE ALCANÇA 60% DO
PROGRAMA DE DESCARACTERIZAÇÃO
Barragens
A Vale completou 60% de seu Programa de Descaracterização com a
conclusão da obra de eliminação da barragem Grupo, localizada na
Mina Fábrica, em Ouro Preto (MG), somando 18 estruturas a montante
eliminadas. Segundo informou a empresa, foram removidos cerca de
2,5 milhões de m³ de rejeitos do reservatório, incluindo os alteamentos
e o maciço principal. Agora, a área passará por atividades complemen-
tares, como a reconformação do terreno, implantação de sistema de
drenagem e recuperação ambiental.
A barragem Grupo é a terceira estrutura a montante eliminada no Com-
plexo Fábrica. As barragens Forquilha I, II e III estão em fase preparató-
ria, com início das obras previsto para 2026.
VALE RECEBE AVAL DO CADE
PARA ARRENDAR JAZIDA PARA CEDRO
Em setembro, o grupo internacional Weir anunciou a aquisição da
Fast2Mine, empresa brasileira especializada em softwares para mine-
ração. Fundada em Belo Horizonte, a Fast2Mine é reconhecida pelo
sistema de gestão de frota Mining Control (FMS) e soluções de gestão
de mina (MMS). Atualmente, a empresa fundada por Eder Griebeler (à
esquerda na foto), atende mais de 80 operações em nove países, in-
cluindo Brasil, Chile, Argentina, México, Guiana, Libéria, Austrália, Esta-
dos Unidos e África do Sul. O sistema Mining Control gerencia mais de
6 mil ativos e conecta diariamente mais de 20 mil usuários, apoiando
grandes mineradoras globais como Kinross, Norsk Hydro, Equinox, Al-
coa, Ero Copper, Ravenswood Gold e Aura Minerals.
O arrendamento de jazida da Vale para operação da Cedro Mineração em Mariana (MG) está autorizado pelo Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sem restrições. A decisão foi divulgada na edição do Diário Oficial da
União em meados de setembro. Com o aval, a Cedro poderá explorar a área arrendada e, consequentemente, expandir
as operações em áreas limítrofes, localizadas entre os direitos minerários das duas empresas. Segundo o documento
apresentado ao Cade, o arrendamento tem o “intuito do melhor aproveitamento econômico das reservas de ambas as
partes”. As mineradoras defenderam ainda que a operação, envolvendo jazidas localizadas em Minas Gerais, não provoca
concentração comercial, “não sendo capaz de gerar quaisquer preocupações concorrenciais”. Atualmente, a produção da
Mina Cedro Mariana é de aproximadamente 3 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, com planejamento de
expansão da capacidade para 10 milhões de toneladas anuais.
Parceria
Divulgação | Vale
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
Níquel
VALE INAUGURA
FORNO 2 DE ONÇA PUMA
Divulgação | Vale
O segundo forno de processamento de níquel da Vale Me-
tais Básicos no Complexo Mineral Onça Puma, no Pará, ini-
ciou as operações no dia 30 de setembro, adicionando 15
mil toneladas (ktpa) à capacidade anual de níquel, elevando
a operação a uma capacidade de produção nominal de 40
ktpa. Segundo a empresa, o projeto foi concluído dentro do
cronograma e quase 13% abaixo do orçamento. Além disso,
não houve registro de acidentes com afastamento ao longo
do projeto de três anos.
O projeto Forno 2 gerou 2.500 empregos durante a fase de
construção, e sua conclusão posiciona Onça Puma na metade
inferior da curva global de custo do níquel. Ainda segundo a
Vale, com mais de 1.800 empregados permanentes e contrata-
dos, o Complexo Onça Puma é um importante polo de geração
de emprego e renda no Pará e contribui significativamente para
o desenvolvimento socioeconômico da região.
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
10
Parceria
ANGLO AMERICAN
E CODELCO ASSINAM ACORDO
PANORAMA
Divulgação | Anglo American
BARRAGEM DA VALE
DEIXA NÍVEL DE EMERGÊNCIA
Barragens
A Barragem 6 da Mina de Águas Claras, localizada em Nova Lima
(MG), que estava em nível de emergência 1, teve seu nível encerrado
pela Agência Nacional de Mineração (ANM). A retirada de nível foi
possível após a conclusão da obra de reforço, necessária para via-
bilizar a descaracterização da barragem, que está em andamento.
Além disso, segundo a Vale, foram feitas inspeções, análises téc-
nicas e validações conduzidas por equipes de engenharia espe-
cializadas, responsáveis pela Revisão Periódica de Segurança de
Barragens (RPSB) e pelo Relatório de Inspeção de Segurança Regu-
lar (RISR), que atestaram que a estrutura atende plenamente aos
critérios de estabilidade e segurança.
ANGLO AMERICAN IMPLEMENTA CENTRO
DE OPERAÇÕES REMOTAS NO MINAS-RIO
A Anglo American e a estatal de cobre chilena Codelco assinaram
um acordo para desenvolver minas adjacentes nas proximidades de
Santiago, no Chile. A estratégia busca aumentar a produção de co-
bre sem necessidade de grandes investimentos. A resolução prevê a
soma da produção das minas de Los Bronces e Andina, o que resulta-
ria na extração de mais 120 mil toneladas por ano e pelo menos US$
5 bilhões, conforme estimativa das empresas. A parceria entre Anglo
American e Codelco foi aprovado pelas diretorias de ambas as em-
presas. A assinatura do acordo acontece após o anúncio da fusão da
Anglo com a canadense Teck para formar o grupo Anglo Teck, com
o objetivo de aprimorar a qualidade do portfólio.
O Sistema Minas-Rio agora conta com o Centro de Operações Remotas (COR), um espaço que centraliza a operação e o moni-
toramento de equipamentos de mina. Segundo a Anglo American, inicialmente o COR comandará, de forma remota, a opera-
ção de tratores de esteira teleoperados e perfuratrizes autônomas, com planos para incorporar outros equipamentos no futuro.
A companhia investiu cerca de R$ 7 milhões no centro de alta tecnologia para oferecer mais segurança ao ambiente opera-
cional, impulsionar a inovação por meio da automação, e promover a integração em um único local para garantir sinergia
entre as equipes. A mudança promove ainda capacitação profissional, favorecendo novas competências para a operação
remota. Além disso, o COR abre portas para a inclusão, criando oportunidades para que pessoas com mobilidade reduzida
possam desempenhar funções que antes exigiam deslocamento a locais de difícil acesso.
Segurança
Divulgação | Vale
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
11
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
12
EVENTO
EXPOSIBRAM 2025
EXPOSIBRAM RETORNA A SALVADOR
E PROJETA NOVA FRONTEIRA
MINERAL NO NORDESTE
S
alvador se prepara para rece-
ber, entre os dias 27 e 30 de
outubro de 2025, a Exposição
e Congresso Brasileiro de Mineração
(Exposibram), organizada pelo Instituto
Brasileiro de Mineração (IBRAM). O even-
to, considerado o maior da mineração na
América Latina, retorna ao Nordeste após
duas décadas, com foco na abertura de
uma nova fronteira mineral na região.
O governo baiano tem expectativa de
participação de mais de 30 mil visitan-
tes, entre empresários, autoridades,
investidores e pesquisadores. Para o
secretário de Turismo, Maurício Bacelar,
será o maior evento de turismo corpo-
rativo já realizado no estado. Hotéis,
restaurantes, comércio e serviços locais
devem ser impactados positivamente.
NEGÓCIOS E INOVAÇÃO
NO CENTRO DO DEBATE
O IBRAM destaca que a feira oferecerá
rodadas de negócios entre mineradoras,
fornecedores nacionais e internacionais,
criando oportunidades de parcerias es-
tratégicas. Além disso, expositores terão
espaço para apresentar marcas e solu-
ções em áreas internas e externas, forta-
lecendo sua visibilidade em um merca-
do altamente segmentado.
Para o congresso, estão previstas ses-
sões magnas e painéis simultâneos
sobre temas centrais para o setor: sus-
tentabilidade, transição energética,
transformação digital, regulação e ino-
vação. O objetivo é discutir como a mi-
neração pode se alinhar às demandas
globais e contribuir para o desenvolvi-
mento socioeconômico.
IMPACTO REGIONAL E LEGADO
De acordo com o governo baiano, a Ex-
posibram representa não apenas a chan-
ce de movimentar a economia local, mas
também de consolidar o estado como
um dos protagonistas da mineração na-
cional. O evento reforça a aposta em mi-
nerais estratégicos, cada vez mais valori-
zados em função da transição energética
e das cadeias tecnológicas globais.
Com um público recorde, grandes no-
mes do setor e um olhar voltado para
o futuro, a Exposibram 2025 promete
deixar legado duradouro para Salvador
e para toda a cadeia mineral brasileira.
Governo da Bahia espera receber 30 mil visitantes em um dos
maiores eventos da mineração na América Latina
Da Redação
EXPOSIBRAM 2025
Data: 27 a 30 de outubro
Local: Centro de Convenções
Salvador – Av. Octávio
Mangabeira, 5.490 – Boca do Rio
– Salvador – BA
Mais informações e inscrições em
exposibram2025.ibram.org.br
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
12
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
14
“Uma mineração inclusiva,
sustentável e inovadora”
ENTREVISTA
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
14
HENRIQUE CARBALLAL
Beatriz Araújo | CBPM
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
15
À
s vésperas de sediar a edição
2025 da Exposibram, maior
evento do setor mineral da
América Latina, a Bahia se consolida
como um dos protagonistas da mine-
ração brasileira e chega ao evento em
posição de destaque. O estado abriga
algumas das maiores reservas de mine-
rais raros do país e vive um momento
de forte expansão no setor – com in-
vestimentos bilionários previstos para
os próximos anos e foco em minerais
estratégicos para a transição energéti-
ca, como níquel, cobre, cobalto, ferro,
titânio, vanádio, grafita e terras raras.
Esse movimento vem acompanhado de
avanços tecnológicos voltados à produ-
ção mais limpa e sustentável, e também
de mudanças legislativas, reforçando o
Mineração & Sustentabilidade – O
senhor está no comando da CBPM
desde 2023. Como classifica essa
trajetória até aqui?
Henrique Carballal – A mineração é
uma das atividades econômicas mais
antigas. Os estados tinham grande
participação no fomento da ativida-
de em si. No entanto, com o passar
do tempo e a consolidação de gran-
des empreendimentos, esse apoio foi
sendo gradualmente reduzido. Mui-
tas empresas estaduais de mineração
foram extintas, o que não ocorreu
com a CBPM, que tinha contratos de
recebimento de royalties, fruto das
pesquisas feitas anteriormente e o
que garantia autonomia financeira
Valquiria Lopes
Presidente da CBPM detalha iniciativas que tendem
a posicionar Companhia na liderança da extração
de minerais estratégicos e críticos na Bahia
papel da mineração como vetor de de-
senvolvimento econômico e social.
Em entrevista exclusiva, o presidente
da Companhia Baiana de Produção
Mineral (CBPM), Henrique Carballal,
destaca a força do setor no estado, que
ocupa o posto de terceiro maior produ-
tor mineral do Brasil e líder no Nordeste,
além de ser o único estado produtor
de vanádio e urânio e de liderar a pro-
dução de outros minérios de grande
importância para a indústria nacional.
O presidente também comemora a re-
cente mudança na legislação que trans-
formou a antiga Companhia Baiana de
Pesquisa Mineral em Companhia Baia-
na de Produção Mineral, aprovada
pela Assembleia Legislativa da Bahia.
A alteração, segundo ele, marca uma
nova era para a empresa estatal, que
passa a atuar não apenas na pesqui-
sa, mas também na produção e no fo-
mento direto da atividade minerária.
Na prática, o presidente explica que
a CBPM passa a atuar como locomo-
tiva do desenvolvimento econômico
e sustentável da Bahia, mostrando-se
essencial para a geração de empre-
gos, renda e arrecadação, contribuin-
do para uma cadeia produtiva cada
vez mais diversificada e moderna. É
nesse cenário de otimismo que a Ex-
posibram chega à Bahia, com uma
agenda de debates, exposições e pro-
gramação cultural intensa, entre os
dias 27 e 30 de outubro, marcando um
momento histórico para o estado.
para custear pessoal e operações.
Quando cheguei para assumir a
CBPM, o governador Jerônimo Ro-
drigues me deu o desafio de renovar
a Companhia e posicioná-la como
locomotiva do desenvolvimento mi-
neral. Deixamos de ser apenas uma
empresa de pesquisa e nos tornamos
uma Companhia de produção mine-
ral com foco no fomento, articulação
e desenvolvimento da mineração,
atraindo investimentos também para
o processamento dos minerais e nos
tornando autores de um processo de
reindustrialização da Bahia.
Investimos R$ 55 milhões em pesqui-
sa em 2023. Hoje, a CBPM é a empre-
sa brasileira com o maior investimen-
to em pesquisa mineral e uma das
que têm maior credibilidade no país.
Mantemos a segunda maior litoteca
do Brasil, ficando atrás apenas da
Companhia de Pesquisa de Recursos
Minerais (CPRM), o Serviço Geológico
Nacional. Esse acervo representa um
imenso patrimônio de conhecimento
geológico acumulado, que reforça o
protagonismo da Bahia no desenvol-
vimento do setor mineral.
Além disso, ampliamos nossa atuação,
que se expandiu para além da Bahia.
Hoje estamos também em outros es-
tados, como o Piauí, consolidando
nossa presença nacional, além de ter-
mos diversos projetos em andamento.
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
16
ENTREVISTA
HENRIQUE CARBALLAL
M&S – A Assembleia Legislativa
da Bahia aprovou a mudança do
nome da CBPM, de “Pesquisa Mi-
neral” para “Produção Mineral”. O
que essa alteração representa?
HC – Nós mudamos a mentalidade:
deixamos de ser apenas uma Com-
panhia de pesquisa e passamos a ser
também uma empresa de produção
mineral. Essa mudança se refletiu no
próprio nome, que passou de Com-
panhia Baiana de Pesquisa Mineral
para Companhia Baiana de Produ-
ção Mineral.
Agora, a CBPM ganha novas possibi-
lidades de atuação. A estatal passa
a tratar os direitos minerais como
ativos econômicos, podendo anteci-
par royalties, associar-se à iniciativa
privada e monetizar diretamente os
recursos do Estado.
Se antes a empresa apenas entregava
áreas à exploração por outras minera-
doras; agora pode participar da cadeia
produtiva, reter parte do valor gerado
e transformar esses direitos em instru-
mentos financeiros modernos.
Essa mudança representa uma vi-
rada de chave na macroeconomia
baiana. A CBPM deixa de ser apenas
uma empresa de pesquisa e se con-
solida como um agente de produ-
ção, investimento e fomento, com
capacidade de gerar receitas, atrair
capital e impulsionar novos negó-
cios. Trata-se de uma revolução no
papel do Estado na mineração, repo-
sicionando a Bahia como protago-
nista de um modelo econômico mais
dinâmico, inovador e sustentável.
M&S – Quais projetos estratégi-
cos já estão em andamento nessa
nova fase?
HC – Temos vários. Para o fosfato, va-
mos produzir fertilizantes sem gerar
rejeitos, com água 100% reaprovei-
tada, garantindo 30% da demanda
do Nordeste já a partir de 2026. Em
é assinado sem prever contrapartidas
sociais e ambientais. Já destinamos
recursos imediatos para infraes-
trutura, saneamento e cultura em
municípios parceiros. Também es-
tamos qualificando garimpeiros,
formalizando cooperativas e garan-
tindo respeito às mulheres, proibin-
do práticas nocivas como explora-
ção infantil e uso de químicos que
degradam o meio ambiente. Para
nós, não existe sustentabilidade
sem inclusão.
M&S – E no caso dos minerais críti-
cos e estratégicos, tão importantes
para a transição energética, como
a Bahia está se posicionando?
HC – A Bahia é hoje o primeiro esta-
do brasileiro em diversidade mineral.
Em termos de produção, estamos
logo atrás de Minas Gerais e do Pará,
mas nenhum outro estado possui ta-
manha variedade e qualidade de mi-
nerais, especialmente aqueles con-
siderados críticos para a transição
energética, como níquel, cobre, co-
balto, ferro, titânio, vanádio, grafita
e terras raras. Nossos depósitos têm
altos teores e grande potencial eco-
nômico, o que nos coloca em posição
estratégica neste momento em que o
mundo busca soluções sustentáveis
diante da emergência climática.
Estamos evoluindo rapidamente na
extração desses minerais, aprovei-
tando o contexto global da transição
energética. Recentemente, o presi-
dente Luiz Inácio Lula da Silva esteve
na Bahia para inaugurar a fábrica da
BYD, um passo importante na cadeia
da eletromobilidade. E nós já estamos
nos preparando para o futuro: se essas
montadoras precisarem de insumos
minerais para a produção de bate-
rias, a Bahia terá condições de forne-
cer matéria-prima de baixo carbono.
No futuro, as pessoas não vão querer
apenas um carro elétrico — vão que-
rer um carro elétrico produzido com
insumos que não gerem emissões du-
rante seu processo de fabricação.
Belmonte, com uma empresa cana-
dense, instalaremos uma fábrica de
vidro solar de altíssima pureza, mo-
vida a gás natural da Bahiagás, com
baixo carbono. Também estamos
desenvolvendo, junto a parceiros in-
gleses, um projeto de Ferro Brique-
tado a Quente (HBI), fundamental
para a transição energética. Além
disso, estamos criando a Companhia
Baiana de Investimento e Desenvol-
vimento Mineral, para transformar
direitos minerais em ativos e acele-
rar negócios.
A CBPM deixa
de ser apenas
uma empresa
de pesquisa e se
consolida como um
agente de produção,
investimento e
fomento, com
capacidade de
gerar receitas,
atrair capital e
impulsionar novos
negócios.
M&S – O senhor tem destacado o
compromisso da CBPM com uma
mineração sustentável e inclusi-
va. O que isso significa na prática?
HC – Significa que nenhum contrato
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
17
Por isso, estamos desenvolvendo
projetos como o de ferro verde
(HBI), que busca garantir uma pro-
dução industrial com menor emis-
são de carbono. Temos áreas com
terras raras e outros minerais de
altíssimo teor, prontas para explo-
ração responsável.
Ao todo, são 64 áreas de terras raras
sob gestão da CBPM, com grande
potencial de aproveitamento. Esta-
mos criando as condições políticas,
econômicas e estruturais para que a
Bahia lidere o novo ciclo da minera-
ção verde no Brasil, transformando o
que está no nosso subsolo em pros-
peridade, tecnologia e desenvolvi-
mento sustentável.
Beatriz Araújo | CBPM
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
17
Estamos criando as
condições políticas,
econômicas e
estruturais para
que a Bahia
lidere o novo ciclo
da mineração
verde no Brasil,
transformando
o que está no
nosso subsolo
em prosperidade,
tecnologia e
desenvolvimento
sustentável.
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
18
M&S – O senhor mencionou ino-
vação em instrumentos financei-
ros. Pode detalhar?
HC – Sim. Estamos trabalhando na
criação de uma criptomoeda lastre-
ada em ouro e outros minerais, com
credibilidade de uma empresa es-
tatal. Isso significa transformar a ri-
queza mineral em ativos financeiros
modernos, mudando a macroecono-
mia da Bahia.
M&S – A Bahia volta a sediar a
Exposibram após 30 anos. Qual a
importância desse evento?
HC – A Exposibram será a vitrine
para mostrar o quanto a mineração
baiana evoluiu. Preparamos muitas
novidades para receber os visitantes.
Teremos um estande inovador, dinâ-
mico e interativo, que será também
um espaço de aproximação entre a
mineração e a sociedade. Queremos
mostrar, de forma acessível e atrativa,
como a mineração está presente em
tudo no nosso dia a dia — e reforçar
que a Bahia é referência não apenas
em pesquisa e produção mineral,
mas também em uma mineração sus-
ENTREVISTA
HENRIQUE CARBALLAL
tentável e inclusiva, que gera benefí-
cios concretos para a população.
Este ano, vamos apresentar três
grandes novidades que demonstram
nosso compromisso com a inovação
e a transparência: a Litoteca Digital
da CBPM, que disponibiliza online o
acervo geológico da Bahia; o Minera
Bahia, portal que centraliza informa-
ções e dados de pesquisa mineral,
promovendo transparência e desen-
volvimento do setor; e o Hub de Mi-
neração, que fortalece a integração
entre ciência, tecnologia e mercado,
estimulando soluções sustentáveis e
de alto valor agregado.
Outro destaque será o projeto Ga-
rimpo Legal, criado pela CBPM para
qualificar, formalizar e fortalecer a
atividade garimpeira na Bahia, garan-
tindo condições dignas de trabalho,
segurança jurídica e práticas ambien-
talmente responsáveis. E, de forma
inédita, teremos a abertura da Bolsa
de Valores de Toronto (TSX) dentro da
Exposibram, no dia 28 de outubro —
uma iniciativa da CBPM que projeta
internacionalmente o setor mineral
baiano e coloca a Bahia no centro das
atenções globais, reafirmando nosso
potencial de atrair investimentos e
consolidar parcerias estratégicas.
M&S – Como o senhor resume a
visão da CBPM para os próximos
anos?
HC – Queremos reindustrializar a
Bahia a partir da mineração. Não
apenas extrair minério, mas atrair in-
dústrias, gerar valor agregado, criar
empregos e garantir desenvolvi-
mento social. Uma mineração inclu-
siva, sustentável e inovadora, que
faça da Bahia protagonista no setor
mineral brasileiro e mundial.
Estamos trabalhando para integrar
todas as pontas da cadeia mineral,
conectando governo, iniciativa pri-
vada, setor financeiro, academia e
sociedade, com o objetivo de pro-
mover um desenvolvimento econô-
mico vertical na Bahia. A mineração
precisa gerar valor não apenas na
extração, mas também na industria-
lização, inovação e qualificação de
mão de obra, garantindo que a ri-
queza mineral se converta em pros-
peridade para o nosso povo.
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
18
Divulgação | CBPM
CBPM aposta em um
modelo de mineração
sustentável e inclusiva
para Estado da Bahia
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
19
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
20
ARTIGO
IBRAM
A
mineração brasileira é pilar
econômico e peça central da
transição energética ao asse-
gurar minerais críticos e estratégicos.
Ao combinar eficiência produtiva,
geração de receitas e compromissos
socioambientais, o setor aproxima
indústria e sociedade e reforça sua
contribuição para descarbonização,
inovação e desenvolvimento.
A inovação integra a estratégia de
consolidar-se um arranjo colabora-
tivo. Inovações incrementais susten-
tam melhorias contínuas e iniciati-
vas disruptivas abrem fronteiras. A
inovação aberta articula minerado-
ras e outros atores para acelerar so-
luções com investimentos e ênfase
socioambiental.
A adoção tecnológica gera ganhos
em produtividade, segurança e sus-
tentabilidade. Automação e robótica;
inteligência artificial e visão computa-
cional. Avançam soluções que evitam
barragens de rejeitos, aplicam micro-
-ondas para segregação mineral e de-
senvolvem captura de carbono.
O Mining Hub integra mineradoras,
fornecedores, startups, academia, in-
vestidores e governo. Seus programas
organizam a jornada da prova de
conceito à escala e à inovação social.
A agenda de descarbonização avan-
ça com roadmap e plano de ação. O
Corporate Venture Capital direciona
capital a soluções requeridas pelas
empresas; instrumentos públicos de
fomento reduzem riscos e ampliam a
base tecnológica, ajudando a superar
gargalos de escalabilidade.
Os desafios centrais residem na cul-
tura organizacional e na gestão da
mudança. O avanço depende de lide-
ranças e equipes preparadas, de es-
truturas dedicadas e de mecanismos
de contratação que aproximem em-
presas e startups com foco em proble-
mas reais e propostas de valor madu-
ras. A cooperação horizontal e vertical
na cadeia gera resultados.
A inovação também é vetor de sus-
tentabilidade e desenvolvimento
territorial. Em operações muitas ve-
zes remotas, a mineração compar-
tilha infraestrutura com comunida-
des, melhora a eficiência no uso de
recursos e adota práticas de econo-
mia circular. Ganha escala o reapro-
veitamento de rejeitos: pavimenta-
ção, construção, remineralizadores e
corretivos agrícolas.
O setor transita de um foco em oti-
mização para um ecossistema cola-
borativo orientado por desafios e
sustentado por tecnologias habili-
tadoras. Para realizar esse potencial,
será necessário intensificar a coope-
ração com fornecedores, academia
e centros de pesquisa, enfrentar
a queda de teores e o aumento da
movimentação de estéril associa-
dos à transição energética e acelerar
novos processos de concentração e
refino para minerais críticos e estra-
tégicos. Com liderança, cultura de
experimentação e redes robustas de
colaboração, a inovação estratégica
seguirá orientando um futuro mais
eficiente, seguro e alinhado às de-
mandas da sociedade.
Inovação estratégica na mineração:
desvendando o ecossistema,
os desafios e as oportunidades
para um futuro sustentável
Julio Cesar Nery Ferreira | Diretor de Assuntos Minerários do IBRAM
Cinthia de Paiva Rodrigues | Gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do IBRAM
Leandro Rossi | Diretor Executivo do Mining Hub
Elis Santana | Coordenadora de Inovação do Mining Hub
ACESSE O ARTIGO COMPLETO
Revista Mineração & Sustentabilidade | Setembro e Outubro de 2025
21