Revista Mineração | Edição 59

Li Lin | China News Agency | Getty Images

om foco em seu processo de transição

energética, a China deu início a uma das

obras mais grandiosas da engenharia

mundial: a construção do Complexo Hidrelétrico

do Rio Yarlung Zangbo, localizado na região do

Tibete e considerado o maior do planeta. A me-

gaconstrução não só impressiona pela sua escala,

como já começa a causar impactos significativos

no mercado global, especialmente nas cotações

do minério de ferro, matéria-prima fundamental

para sua execução.

Com capacidade projetada para ultrapassar a

de todas as hidrelétricas existentes atualmen-

te no mundo, a nova usina terá uma potência

instalada estimada em torno de 70 gigawatts, o

que a torna maior do que a icônica Usina de Três

Gargantas, também na China e localizada no Rio

Yangtzé, na cidade de Sandouping. Para efeitos

de comparação, a barragem das Três Gargantas

possui uma capacidade de 22,5 gigawatts, en-

quanto a usina de Itaipu tem 14 gigawatts de

potência máxima instalada.

A nova obra integra o plano da China para ex-

pandir sua matriz energética limpa, reduzir a

dependência de combustíveis fósseis e reforçar

sua posição como líder global na produção de

energia renovável.

Por sua localização estratégica, no alto planalto

tibetano, o projeto não apenas desafia a enge-

nharia, mas também provoca preocupações ge-

opolíticas na região, especialmente com países

vizinhos como a Índia, que vê a construção como

um potencial risco para a gestão dos recursos hí-

dricos compartilhados.

CORRIDA PELO MINÉRIO

Do ponto de vista técnico, a hidrelétrica exigirá

uma imensa quantidade de minério de ferro para

e-Digital

a fabricação do concreto armado, estruturas

metálicas e equipamentos, além de maquiná-

rio pesado para escavações e montagem. A de-

manda extraordinária pelo minério já está me-

xendo com os preços internacionais, levando a

movimentações nas cotações devido ao início

da obra, uma vez que a China é o maior impor-

tador global desse insumo.

Curiosamente, além do impacto econômico, es-

pecialistas ressaltam que a obra tem influências

até na física da Terra: com a movimentação de

toneladas de água represada e a construção de

uma gigantesca barragem, alguns estudos in-

dicam que a velocidade de rotação do planeta

pode sofrer pequenas alterações, embora imper-

ceptíveis para o cotidiano, refletindo a imensa

magnitude do projeto.

O início das obras é um sinal claro de que a in-

fraestrutura energética continuará a influen-

ciar mercados globais, políticas regionais e até

fenômenos naturais. Para o setor mineral, em

especial para fornecedores e mineradoras, essa

megaconstrução abre oportunidades significa-

tivas, ao passo que reforça a importância estra-

tégica do minério de ferro na dinâmica econô-

mica mundial.

Trecho do Rio Yarlung

Tsangpo River onde

será construído a

mega-hidrelétrica

Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho e Agosto de 2025

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